martes, octubre 04, 2005

La ciudad parte 3: a cultura de rua

Quando me perguntam o que eu mais gosto em Buenos Aires não tenho dúvidas em responder: poder caminhar. Isso é uma coisa que sempre foi meu “sonho de consumo” em São Paulo, mas que eu nunca pude desfrutar. E aqui eu faço uma distinção entre “andar” e “caminhar”. Em São Paulo, anda-se de um lugar para o outro. Como disse uma vez o Isay Weinfeld, “São Paulo é uma cidade de pontos finais, e não de trajetos”. Sempre se têm em mente o destino final, o “quanto tempo leva daqui até lá”, e somente aos finais de semana é que se pode caminhar sem ter a preocupação do lugar e do tempo. Aqui, no dia a dia, é possível caminhar, fazer um percurso, um trajeto. Pode parecer meio simples, mas sinceramente, faz toda a diferença. A diferença entre “ir de um ponto a outro”, e entre “ir de um ponto, caminhando por tal trajeto, até chegar ao outro”.

Em primeiro lugar, a topografia da cidade facilita. Buenos Aires é uma cidade plana, não existem ladeiras, e uma caminhada de 15 quadras é feita com a maior tranquilidade. O sistema de transporte coletivo também ajuda, e muito; se o trajeto é um pouquinho mais longo, sempre vai ter um “102”, ou um “86”, ou uma linha “D” do metrô que te ajuda. Por isso eu me orgulho de, em quase 2 meses, ter andado raríssimas vezes de táxi.

Outra coisa, aqui as ruas aqui são convidativas. Por mais simples que sejam, sempre há uma banca de flores, um prédio, uma árvore, um café, detalhes que tornam qualquer caminhada, por mais apurada que eu esteja, um motivo de prazer. Existem inúmeras praças, as quais, para mim, são a salvação de qualquer cidade grande. Eu sinto falta em São Paulo de boas praças, daquelas para se sentar nem que por 5 minutos, observar as crianças que brincam, os velhinhos que descansam ou simplesmente vêem a vida passar, os casais que aproveitam uns 10 minutos livres pra namorar; praças que existem para que a população possa desfrutá-las, e não para “ornamentar” um bairro. Essas fotos são da Plaza Sobral que fica a duas quadras da minha casa.

Isso faz com que aqui em Buenos Aires haja essa “cultura da rua”. Por isso que os prédios de apartamentos não precisam ter complexos desportivos ou de lazer, basta caminhar por algumas quadras para se chegar a algum parque ou praça, basta ir até a esquina pra se encontrar um café onde você pode ler tranqüilamente o seu jornal sem precisar ficar trancafiado em casa.

Enfim, espero que quando volte pra São Paulo eu possa levar comigo esse hábito, ainda que a cidade não seja lá das mais convidativas para se caminhar. Também espero voltar com esse olhar mais afiado para perceber coisas que antes eu não percebia.

Ah, e por falar em voltar para São Paulo, meu retorno foi postergado para o meio de Novembro... mas eu volto, viu? Besitos.

2 comentarios:

Andreas Toscano dijo...

Aninha, duas coisas:
1) Impressionante como Kiev e Buenos Aires se parecem. Bem, na verdade, acho que Sao Paulo eh que eh diferente do resto do mundo. Essa coisa de nao ter preocupacao com estetica, seguranca, etc. No bom sentido, claro. A estetica fica a seu criterio, dentro de casa. O carro eh apenas um meio de transporte e nao existe porteiro.

2) A questao da cultura de rua nao eh gerada por que os predios nao tem area de lazer. Na verdade, no Brasil existe a cultura de enjaular o cidadao. Ninguem tem coragem de passar numa praca durante a noite. Aqui, tem playgroud, praca, bosque, etc. e, se voce passar lah as 2h da manha, vai ver alguem passeando com o cachorro, uma mulher sozinha (!) voltando para casa... Eh muito mais legal.

Aproveite bastante o tempo que resta ai.

Bjs

anaaleixo dijo...

Saulo, querido, que saudades!
Deas, concordo com vc, SP é que é diferente e nos deixa desacostumados a ver as coisas boas e simples... E o que eu quis dizer é que não é a falta de área de lazer que gera a cultura de rua, mas sim o contrário! Justamente por poder ficar na rua é que não se precisa de áreas de lazer. Aproveite bastante aí tbem.
Beijos a todos