miércoles, octubre 12, 2005

"El Aura" e a cultura argentina

Ontem fui ver o filme El Aura, produção argentina que estreou há cerca de 1 mês e é sucesso absoluto. Sobre o filme não quero falar muito, só adianto que é ótimo. Ele foi dirigido pelo Fabián Belinsky, o mesmo diretor de 9 Rainhas. Quem viu, sabe que o cara é bom. Portanto, recomendo que vocês o assistam (imagino que já esteja aí em SP).
Mas na verdade o filme foi um pretexto para falar um pouco sobre a produção cultural aqui na Argentina, especialmente em Buenos Aires. Na verdade o assunto rende muitas linhas escritas, por isso vou me restringir a alguns poucos exemplos. Percebo que as iniciativas na área da cultura são visíveis e não dependem exclusivamente do poder público. É como se existisse um movimento contínuo, um calendário extenso de mostras, filmes, festivais, realizados tanto pelos órgãos oficiais da cultura, quanto pelos produtores independentes.
A Secretaria de Cultura de Buenos Aires tem programas diversos, desde iniciativas voltadas para a chamada “cultura de bairro” até grandes ações, como exposições de arte, mostras de teatro e filmes. Por exemplo, durante todo o mês de Setembro aconteceu o Festival Internacional de Buenos Aires, com o foco voltado mais para as produções teatrais. Houve apresentações de dezenas de grupos internacionais, e mais uma programação dedicada às companhias de teatro/dança locais. Vale lembrar que todos os espetáculos dos grupos argentinos tiveram entrada gratuita. Os resultados foram fantásticos, mais de 100.000 pessoas assistiram às peças e às atividades paralelas.
Na última semana de Setembro aconteceu o Festival de Arte de Buenos Aires, com diversas atividades relacionadas às artes cênicas e visuais. Para fechar o festival, realizou-se a “Noite dos Museus”, sábado em que 53 museus da capital abriram suas portas das 19h às 2h da manhã, com entrada gratuita e oferecendo, além de visitas monitoradas, atividades paralelas como shows, oficinas e encontros variados. A festa oficial de encerramento desse festival aconteceu em frente à Direção Geral dos Museus, em Puerto Madero, com apresentações de grupos musicais diversos e DJs.
Por outro lado, a produção cultural independente também é muito rica. Isso eu já tinha percebido quando cheguei aqui, depois confirmei minhas impressões conversando com minha prima e outros conhecidos. Justamente pelas dificuldades que o país enfrenta, os grupos independentes se mobilizaram de uma maneira jamais vista e produzem mostras coletivas, festivais de música, criam centros culturais comunitários, e por aí vai. Nada de ficar parado lamentando a crise, a ordem é juntar-se a pessoas com interesses comuns e fazer acontecer.
Com isso, percebo que, ainda que a cultura aqui sofra os mesmos problemas que em qualquer país da América Latina, especialmente com relação à ausência de uma política cultural bem definida e à constante falta de verbas, as iniciativas para se tentar uma nova aproximação e abordagem junto ao público em geral são evidentes. Todas estas iniciativas obtêm resultados visiveis e, no final, quem ganha é toda a cidade. É claro que existem muitas limitações, e o debate sobre o “acesso à cultura” é permanente e está longe de ser totalmente resolvido. Mas os exemplos que eu mencionei nesse texto mostram que para se produzir uma cultura acessível e com um mínimo de qualidade, antes de dinheiro, é necessário vontade.
E, voltando ao tema inicial desse texto, não é à toa que o cinema argentino cresce cada vez mais. Como resposta ao investimento feito nas produções nacionais, o filme El Aura, junto com mais duas outras produções argentinas, foram os mais vistos nos últimos finais de semana, à frente das produções estrangeiras.
Bom, e para finalizar, uma novidade. Vou começar a fazer um trabalho voluntário numa fundação criada por um artista plástico argentino, e que tem justamente o propósito de criar uma comunidade de artistas e não-artistas para incentivar a produção cultural argentina. Depois conto pra vocês com mais detalhes...
Besos.

No hay comentarios.: