Quando vim morar em Santiago sabia que teria que me acostumar ao frio. Mas é só quando ele chega que a gente tem a real idéia do que significa viver com ele. Porque uma coisa é o frio que a gente tem em São Paulo, uma semana gelada, depois começa a amenizar. Outra coisa é estar 3 meses com temperaturas máximas de 15 graus.
Uma coisa são os casacos que a gente compra no Brasil pra se abrigar. Aqui, não esquentam nada.
Uma coisa é você colocar várias blusas para se abrigar. Outra é ter que colocar blusa térmica, blusa de manga comprida, malha de lã, meia-calça normal, meia-calça de lã, meia de lã, calça de veludo, jaqueta, casacão, cachecol, luva, gorro, ... e ainda assim sentir frio.
Uma coisa é ir trabalhar bem agasalhada. Outra coisa é ter que trabalhar o dia inteiro de luva e ainda assim levantar de 5 em 5 minutos para esquentar as mãos na estufa.
É conversar com alguém dentro do escritório e ver o vapor saindo da boca.
É dizer, quando fazem 12 graus, "ah, hoje não está tão frio".
É sentir, quando fazem 16 graus, um tímido calor no corpo.
É ver na rua um carro que veio de um bairro mais alto coberto de neve, e ter que se segurar para não denunciar que você é mais um brasileiro fascinado com o gelo.
É voltar do trabalho morrendo de frio e quase desmaiar de felicidade ao entrar em casa e sentir o calorzinho da calefação.
É desfrutar, ainda mais, um bom vinho, ou uma boa cachaça.
É ganhar uns quilinhos extras, porque simplesmente é impossível ficar só na saladinha e negar um bom prato de massa.
É agüentar 3 dias de chuva, mas depois ser recompensada por um dia lindo com a Cordilheira toda nevada.
É ter saudades do calor da praia, mas no fundo no fundo... adorar viver nesse clima.