martes, septiembre 27, 2005

La noche del diez... nota zero.

Ontem, pela primeira vez, vi o novo programa do Maradona, “La noche del diez”. A intenção era vê-lo por inteiro, mas não rolou. É muito ruim. Tão ruim que chega a ser engraçado.

Primeiro que o Maradona me lembra a Alicinha Cavalcanti. Cheirou tanta cocaína na vida que agora tá estragado de vez. Fala efusivamente, dá uns berros absurdos, sorri de uma maneira meio neurótica, às vezes olha para as câmeras com a mesma expressão que ele tinha depois que fez um gol numa copa (acho que na de 98), quando logo depois foi detectado o uso da cocaína. Juro, foi a visão da Alicinha Cavalcanti versão masculina.

O programa em si é uma mistura de Domingão do Faustão com Programa da Hebe. O co-apresentador é o Sergio Goycochea (para quem não se lembra, ex-goleiro da seleção argentina). Milhares de dançarinas fazem coreografias ridículas, e umas associações mais que forçadas para apresentar os convidados. Por exemplo, ontem, uma das convidadas era uma modelo-apresentadora daqui. O Maradona a apresentou como “a mulher que tem as pernas mais longas da Argentina”. Antes que ela entrasse no palco, umas dez modelos-dançarinas entraram no palco em cima de pernas de pau, como se estivessem numa passarela. O outro convidado era um ator que, segundo o apresentador, era o homem ideal para se casar. Pois antes que ele entrasse no palco, surgiram mais umas dez dançarinas vestidas de noiva com uma coreografia beeem fraquinha. E por aí foi.

Mas o que me chamou a atenção é que o “La noche del diez” não me pareceu um programa para o público em geral apresentado pelo Maradona. É um programa para o Maradona que o público em geral gosta de ver. Tudo gira em torno dele, os convidados se rasgam em elogios para ele, ele entrevista os próprios amigos e ex-companheiros (ontem, por exemplo, estava lá o Caniggia – que por sinal está parecendo um cachorro de rua), o que acaba enchendo o saco.

Mas o que é indiscutível é que o cara tem mais poder aqui que qualquer presidente. E essa é a diferença entre a relação do argentino com o Maradona e da relação do brasileiro com o Pelé. Eu acho que o Pelé foi melhor que o Maradona, mas o Pelé está longe de ser o ídolo da minha vida. E aqui é exatamente o contrário.

O fato é que 15 minutos de programa já me bastaram. Mais do que nunca, como apresentador de televisão, Don Diego é o melhor jogador de futebol do mundo.

miércoles, septiembre 21, 2005

É primavera...

Nunca vi a primavera ser tão festejada. Hoje, 21 de setembro, primeiro dia da estação, é feriado em Buenos Aires. Os estudantes não têm aula, a cidade fica mais colorida e alegre, exatamente como pede a ocasião.

As pessoas ficam nas praças, lotam os parques, bares, sorveterias, compram flores para presentar os amigos, familiares, e para colocar em casa. Por isso as bancas de flores (eu adoro isso, elas estão por toda a parte), aumentam a oferta e enchem as calçadas de cor e cheiro bom. Eu, claro, não poderia fugir à regra e comprei um raminho de “fressias” (aí na foto) para enfeitar o meu apertamento.

O tempo também colaborou. Hoje fez um dia lindo, sol, céu azul, um certo calorzinho durante à tarde mas que agora já foi substituído por um friozinho gostoso.

Realmente um dia simples mas que vai ficar marcado... e eu acho que pra mim o primeiro dia da primavera nunca mais vai ser o mesmo.

lunes, septiembre 19, 2005

Amores perros

Os argentinos amam cachorros. Aqui, esses animais são os melhores e maiores amigos dos portenhos. Eles adoram raças grandes como labrador, doberman, boxer etc. e, não sei como, convivem com eles em apartamentos pequenos. Daí que, pelo menos duas vezes por dia, os donos saem com seus bichos para passear. Isso faz com que os cachorros estejam bem acostumados com o movimento dos carros e das pessoas, tanto que é freqüente encontrar cães caminhando sem coleira.

Só que eu cheguei meio desavisada... e por várias vezes quase morri de infarto encontrando um cachorrão no meio da rua. Quem me conhece sabe que eu não sei interagir muito bem com os cães. Uma ocasião fiquei branca de medo quando caminhava e, de repente, me dei conta de que havia um doberman sem coleira ao meu lado (minha família deve imaginar – vocês se lembram da Kelly, lá do Residencial em Guará?). Pois é... mas depois fui me acostumando.

Quando os donos não têm tempo, contratam os já conhecidos “passeadores de cachorros”. Nessa foto, o passeador tinha ido devolver um dos seus clientes, enquanto os outros esperavam tranquilamente a continuação do passeio. Foi a maior concentração de labradores caramelos que já vi.


Bom, como eu já contei, a maior parte dos apartamentos não tem áreas de lazer e serviço, ou seja, as ruas acabam sendo as áreas de lazer e de “serviço” dos cães. Se você se distrai, é carimbado. O “presentinho” aí na foto é apenas um exemplar dentre milhares que existem nas calçadas portenhas. Ainda estava intacto, mas constantemente encontro registros de pessoas que não foram tão afortunadas...

Essa história de dono levar junto um saquinho plástico para limpar a caca do seu bichinho não existe. Ou seja, aqui em Buenos Aires é preciso andar com um olho pra frente e o outro pro chão. Bobeou, sujou...

Besitos.

jueves, septiembre 15, 2005

La ciudad parte 2: Prédios e apartamentos


A arquitetura dos edifícios, em geral, é antiga. Com exceção dos bairros mais chiques ou modernos, os prédios são velhos, às vezes mal cuidados em seu aspecto exterior, mas outras vezes com um clima dos “tempos de outrora”. São grudados uns nos outros. Aqui dificilmente se encontram edifícios com recuo. O prédio aí do lado é o meu.

Por dentro deles há coisas que, para uma paulistana, são difíceis de se acostumar. Os elevadores, por exemplo, têm porta manual. Na verdade duas portas, uma de grades, e a outra da cabine que, por sua vez, quase sempre suporta até 3 pessoas. Também não são automáticos, e só obedecem uma chamada de cada vez. Outro dia entrei no elevador com um vizinho. Apertei o meu andar e, como sempre faço em SP, perguntei qual era o andar dele. Ele me respondeu: quarto. Imediatamente apertei o botão do andar dele, mas percebi no seu rosto um leve sorriso como quem pensa “ô fofinha, o elevador só obedece um comando de cada vez...”. E só depois me dei conta disso. Vivendo e aprendendo...

Os banheiros não têm janela. Nenhum deles. Têm apenas uma abertura para o canal de ventilação do prédio. O que às vezes me dá uma certa crise claustrofóbica, que logo passa.

Os prédios, em sua maioria, não têm área de lazer. Piscina, playground? Nada. E isso tem como conseqüência um outro tópico que vou escrever mais pra frente, falando sobre a “cultura de rua” dos portenhos. Nem área de lazer, nem área de serviço. Lugar pra varal, lava-roupas, secadora, tábua de passar, quarto de empregada, despensa? Virgi. E, também como conseqüência, muitas vezes as sacadas dos prédios acabam por cumprir esse papel. É comum ver sacadas com roupas penduradas, bicicletas encostadas, caixas; a minha, por exemplo, tem balde, vassoura, varalzinho, produtos de limpeza etc... Ao lado vocês podem ver a minha varanda, com a visão para os fundos do prédio, e com a bagunça escondida, claro.

Eles economizaram bem nos espaços, viu...

Besitos.


miércoles, septiembre 14, 2005

La ciudad


Buenos Aires é uma cidade encantadora. De verdade, acho que dificilmente uma pessoa que a conheça não se encante, por um motivo ou outro.

Mas quando se passa algum tempo aqui, é possível notar com mais precisão o que exatamente há de tão encantador nessa cidade. Pode ser por motivos bons, inusitados, às vezes até mesmo incompreensíveis.

Para mim, que sou de São Paulo, uma cidade onde se tem de tudo o que há de mais moderno, viver em Buenos Aires significa entender como a modernidade pode conviver com a nostalgia.

Porque uma das minhas primeiras impressões sobre Buenos Aires é que ela é uma cidade nostálgica. Parece que se ouve um tango cheio de lamento o tempo inteiro, bem ao fundo, mesclado com sons de risadas, choros de crianças, buzinas de carros, gritos de protestos, pedidos de ajuda, homens cantando na madrugada. A poesia está nos buenos aires.

Bom, para esse tópico não ficar muito extenso, vou dividi-lo em subtemas que escreverei mais para frente: os prédios e apartamentos, as ruas, os carros e por aí vai.

Por ora, deixo com vocês 2 fotos que tirei numa caminhada pelas calles porteñas, para tentar passar um pouquinho desse clima...

Lo pasamos super!

Na semana passada, assim como milhares de brasileiros que lotaram a cidade por conta do feriado de 7 de setembro, meu amigo Carlos Borges, vulgo Carlão, veio passar 5 dias aqui com um amigo, Fabiano. Acabamos nos encontrando só por 2 dias, mas posso dizer que sua passagem foi avassaladora.


No sábado, começamos o dia no restaurante "Siga la vaca". Assim que chegamos, a garçonete nos explicou o esquema da casa: "Vocês têm direito ao buffet de saladas, às carnes e à bebida, que pode ser vinho, água ou refrigerante". Perguntei "é uma taça de vinho?". Ela respondeu: "Não, uma garrafa". Perguntei: "Uma garrafa por mesa?". Ela respondeu: "Não, uma garrafa por pessoa". Pasmem. Por 31 pesos (algo em torno de 26 reais), comemos como uns condenados e ainda bebemos uma garrafa de vinho... cada um.

Depois disso, seguimos para Palermo Viejo, bairro que seria compatível com a nossa Vila Madalena. Caminhamos pelas lojinhas e os dois meninos, incansáveis, me arrastaram para o Olsen, restaurante Norueguês, cujo diferencial é a variedade de vodkas... não preciso dizer mais nada.

Após uma tarde tão intensa, a noite não poderia ser diferente. Após um breve descanso, voltei a me encontrar com eles por volta das 1h am. Agora, o destino foi o Roxy... segundo o Carlão, uma balada rock&roll decadente, como ele mesmo gosta. Trata-se de uma danceteria que fica embaixo de uma linha de trem, com 2 pistas, vários bares e muita gente. Tá certo que 99% dos freqüentadores não devia ter mais que 20 anos, mas a música (muito rock com alguns lampejos de pop e dance) e a companhia (Carlos, Fabiano, alguns amigos do Fabiano e um recém amigo portenho dos dois), fizeram a diferença.

Não tenho muito mais o que dizer, só posso agradecer ao Carlão e ao Fabiano por esses momentos únicos...

Como dizem aqui: lo pasamos super...!

jueves, septiembre 08, 2005

O começo de tudo

Antes de falar da vida aqui em Buenos Aires, acho importante falar sobre o começo disso tudo. Afinal, ainda não sou tão "porra-loca" para chegar ao ponto de decidir de um dia para o outro que iria morar na Argentina.

No final de 2004, o Banco Santos sofreu a intervenção do Banco Central. Todos os negócios diretos e indiretos da instituição, pararam completamente. A BrasilConnects, braço cultural do banco, sofreu diretamente com a falta de recursos financeiros provenientes do banco e, alguns meses mais tarde, estaria fechando as portas... Tudo seria apenas uma notícia de jornal se eu não fosse a Coordenadora do Programa Educativo da BrasilConnects, e visse, de uma hora pra outra, meu emprego indo pro saco...

A partir daí tive que tomar uma decisão: escolher ficar desesperada por não ter mais meu emprego, ou aproveitar a situação para efetivar as mudanças que eu já sentia que estavam vindo. E, por isso, decidi que 2005 iria ser o ano da transformação. Deixei, por opção, muitas coisas para trás e busquei um novo sentido pra minha vida pessoal e profissional. Aceitei trabalhar num projeto de uma exposição de forma autônoma, fato que me fez amadurecer muito. Vendi meu carro buscando um novo tipo de cotidiano, menos preso ao trânsito infernal e mais ligado ao caminhar. Abaixo à preguiça! Decidi me aprofundar cada vez mais no tema da integração cultural latino-americana. Abaixo a ditadura cultural dos Estados Unidos! E, com isso, decidi que teria que falar (bem) o espanhol.

E já que o tempo era de mudança, tinha que mudar de lugar, de ares. Tinha que buscar uns bons ares...

Agora vai... la vida en los Buenos Aires...

Agora não tem mais jeito. Por mais que adiasse esse momento, ele chegou. Vou começar a escrever minhas impressões a partir da experiência de viver em Buenos Aires. Já se passou um certo tempo e pude amadurecer algumas opiniões, chegar a algumas conclusões, ver cenas e imagens que agora têm que ser compartilhadas... antes que se percam por aí.

Ainda não sei muito bem como vou organizar os textos que já existem aqui na minha cabeça, mas a coisa vai sair, não se preocupem.